Pintura
“A pintura e as imagens em geral têm uma especial relação para com as forças que partem do coração. Assim como as cores vivem entre a luz e a escuridão, a alma humana vive também entre a alegria e a tristeza, prazer e sofrimento. A alma pode ser comparada ao aparelho respiratório: é saudável quando o fluxo do inspirar e expirar estão em equilíbrio. Quando uma pessoa já não consegue ‘respirar’ com a sua alma tendência é adoecer, principalmente nas regiões do aparelho respiratório e circulatório.”
Dra Margareth Hauchka.
Na terapia artística antroposófica a pintura está relacionada ao sistema rítmico (respiração e circulação) onde está a esfera dos nossos sentimentos e emoções – a vida anímica. Atuando principalmente através das cores, a pintura é a técnica que ajuda a alma a “respirar”.
No ato de pintar, a alma é tocada pelas cores. Nesta atividade, além das indicações terapêuticas corretas, é também importante o elemento do prazer e do entusiasmo. Essa motivação interior reanima as a forças vitais, ou seja, provoca uma revitalização de todo o organismo e uma melhora das funções glandulares.
O universo cromático representa de forma objetiva a alma humana. Através da teoria das cores de Goethe, observamos no espectro do arco-íris a totalidade: entre o claro e o escuro tem-se o caminho das cores (cada qual com a sua característica) que se intensificam e se complementam em harmonia.
A cor amarela é a mais próxima da luz. Tem um caráter alegre e radiante. Indo um degrau em direção ao escuro, temos o laranja com o seu calor e energia. Outro passo adiante e encontramos o vermelho, a cor da ação e do entusiasmo. Essas são as cores quentes. Entre o amarelo (quente) e o azul (frio), surge o verde, onde nossa alma e olhos repousam em equilíbrio. Na sequência aparece a cor azul, a mais próxima da escuridão: tranquila e profunda. Se o amarelo é alegre, o azul pode representar o contraponto. O violeta já não é tão frio por ser o encontro do azul com o vermelho.
A própria alternância de temperatura entre as cores caracteriza um elemento rítmico-respiratório. Cores quentes, ativas e expansivas. Cores frias, passivas e contraídas. O que já nos dá um indício de como utilizá-las: nas doenças consideradas frias (medicina antroposófica) como o reumatismo e o câncer, a terapêutica indicada é a vivência com o elemento do calor. E o oposto, as doenças inflamatórias (calor excessivo) encontram alívio no frescor dos verdes e azuis.
A pintura terapêutica tem como principal técnica a aquarela (material não-tóxico) que com seu aspecto transparente possibilita criar inúmero matizes e nuances e dá à alma, através dos olhos, mais condições de expressar seus conteúdos ou de receber a beleza e a força das cores. A transparência da aquarela transmite também uma sensação mais “respirante”.
Na aquarela podemos usar o papel previamente molhado, o que estimula a fluidez, a espontaneidade e a coragem; organicamente estimula todos os Processos de excreção (funções glandulares). No papel seco, temos a técnica do “velado”, a pintura é feita em camadas: espera-se a superfície pintada secar para sobrepor a próxima. É usada em situações onde é necessário tomar distância das emoções para trazê-las à consciência. Há também situações em precisamos da cor, mas pela característica da doença (hemorragia ou colite ulcerosa) não é indicado lidar com água, usamos então o lápis de cor ou o giz pastel.
A respiração pode também ser enfatizada pelo modo de pincelar: pinceladas longas e ritmadas colaboram no estímulo e à atenção do ato de inspirar e expirar. Pinceladas curtas e rápidas tendem a contrair a respiração.
As primeiras sessões de pintura têm geralmente um tema livre para que a pessoa possa se familiarizar com a técnica e expressar genuinamente as suas tendências e conteúdos internos. Estas primeiras impressões serão a bússola pela qual o terapeuta artístico irá se orientar na indicação dos temas ou exercícios cromáticos que trarão as imagens imbuídas das forças anímicas necessárias ao processo do paciente.
As principais indicações para a pintura são para todas as situações, onde o sistema rítmico (respiração e circulação) esteja comprometido. No âmbito anímico (psicológico), os sentimentos de medo, ansiedade ou timidez podem alterar o fluxo rítmico; psicossomático, por exemplo, a asma; processos já instaurados no organismo como as cardiopatias, o câncer, as doenças reumáticas e etc.. Em todos os processos de endurecimento da vida anímica por um excesso de racionalidade e de um modo geral, em todas as situações em que o pensar e o agir se achem comprometidos por uma paralisação do sentir ou simplesmente como uma possibilidade de autoconhecimento e desenvolvimento da percepção através da arte.
No processo ativo da pintura (e da terapia artística na sua totalidade) o “paciente” é na prática um “agente”: ao pintar o seu “EU” é constantemente chamado a tomar decisões – que cor escolher, onde colocá-la. Se o resultado deixar uma sensação de insatisfação, este “EU”, geralmente busca a cor, o movimento, ou melhor, se “arrisca” na procura de uma solução e ganha coragem para que haja uma mudança.
Quando este movimento na lida com as cores, com o papel e o pincel, enfim quando suas conquistas se estendem para o dia a dia, alguns passos em direção à cura terá sido dado.
MARCIA ABUMANSUR – Terapeuta Artística e Artista Plástica