Desenho de Formas
1. Considerações conceituais e históricas
O desenho de formas, como elemento artístico, contrapõe-se ao desenho figurativo, posicionando a linha como rastro de movimento. É uma das mais antigas formas artísticas da humanidade – basta lembrar os desenhos rupestres do período neolítico e da Idade do Bronze. A Arte dos canteiros dos Longobardos e Irlandeses, bem como as iluminuras desses povos, são a expressão da chamada “Ars Lineandi”, na Idade Média.
Em setembro de 1919, quando fundou a primeira escola Waldorf, em Stuttgart (Alemanha), Rudolf Steiner incluiu no currículo duas novas matérias, a Euritmia e o Desenho de Formas, ambas relacionadas com elementos do movimento e da forma. Mais tarde, Steiner sugeriu a ampliação da prática de desenho de formas também para as áreas terapêuticas, como a Terapia Artística e a Pedagogia Curativa.
A prática do desenho de formas pertence ao princípio da cura porque ela é inteiramente não intelectual. À medida que uma pessoa a pratica, ela revela aspectos sempre novos. Um mesmo e único exercício pode proporcionar experiências sempre diferentes, para diferentes faixas etárias.
O desenho de formas tem uma forte influência no corpo etérico, pois ele tende a continuar sua atividade durante o sono baseado nas impressões recebidas durante
o dia, e aperfeiçoar-se. Assim, essa prática fortalece,
estimula e harmoniza o corpo etérico e vitaliza diretamente
o corpo físico.
O senso para formas é o cerne de uma nova experiência artística. Aquele que se dedicar com devoção e empenho sentirá não somente que está aprendendo algo novo, mas que, ao mesmo tempo, estará percorrendo um caminho, transformando-se. O desenho de formas pode ser um caminho de exercitação interior.
2. Algumas reflexões sobre o desenho de formas
O filósofo neoplatônico Proklos (410-485 A.C.) de Atenas dizia: “Isto, pois, é o desenho de formas: a recordação das idéias invisíveis na alma, e isto é sua realização... ele dá vida a suas próprias reconhecenças, desperta o espírito, purifica a razão e traz à luz a estrutura das formas, que são essenciais em nós. Ela neutraliza a infâmia e a ignorância que nos são imanentes desde o nascimento e nos liberta dos laços da insensatez . Ela desperta a alma do sono e a movimenta em direção ao espírito. É ela que nos faz verdadeiros seres humanos, nos faz enxergar o espírito e nos leva de volta aos deuses”.
Filippo Brunelleschi (1377-1446), o construtor da cúpula da Catedral de Florença, fala em termos elevados sobre a as linhas: “As linhas e figuras são sinais visíveis do gestos de Deus. Aprender a compreendê-las é perceber como Deus criou o mundo”.
“Desenvolver forças criativas através do desenhar formas Ativo.”
Rudolf Kutzli
“Toda Linha é um eixo do mundo, a linha reta é a lei e a linha curva é a vitória da natureza livre sobre a regra”. Novalis
3. Atuação no desenhista de formas:
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O pensar tende a captar, ao conceito e à ordem das leis: contém em si o perigo de estarrecer.
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O querer vivifica, movimenta, flui e alimenta: porém contém em si outro perigo, o de diluir-se no caos, o de volatizar-se.
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O Equilíbrio é criado pela força do meio, o EU humano.
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Pensar no querer, querer no pensar, isto cria um centro.
Estimular o querer vivo e curioso do desafio, das percepções e representações.
4. Reflexão final
“Quando pensamentos são vivenciados no fluxo do pensamento puro, quando o pensamento é levado ao ponto de nem mais ter que ser designado ‘pensar’, então, num instante passa a ser outra coisa. Pois este ‘pensar puro’ como é corretamente designado este pensar, de fato, tornou-se ao mesmo tempo querer puro, pois é completamente querer... Este ‘pensamento puro’ é um transcurso volitivo.” [...]
“Se continuamente tentarmos tornar-nos unos com a linha do pensar e do querer, portanto não apenas como homem cabeça, porém como homem integral, a partir do centro de nossa força do eu movimentar-nos ao desenhar, então criamos, fortalecemos esta força do meio.”
Rudolf Steiner