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Modelagem

No estado sadio ideal o ser humano possui um equilíbrio entre pensamento, sentimento e volição (ação), que são três atividades interiores através das quais ele se relaciona com o mundo externo e consigo mesmo. Esse equilíbrio, no entanto, não é estático e comporta, até certo ponto, predominância numa ou noutra área sem que isso afete sua saúde. Todos nós em determinados momentos da vida, estamos expostos a situações de estresse quando podemos ser invadidos por emoções desordenadas, ou circunstâncias que nos exijam uma atividade intelectual intensa fazendo com que a homeostase no nosso corpo seja afetada. Quando, porém, esse tipo de situação passa a dominar nossa vida, de modo prolongado ou crônico, gera um desequilíbrio que se manifestará em enfermidade.

No mundo contemporâneo a sobrecarga de informação a que estamos submetidos e a supervalorização do pensamento lógico e racional geram uma hiperatividade do pensar deixando pouco espaço para uma vida sadia de sentimentos e ações congruentes.

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Embora lentamente o ser humano venha desenvolvendo novas capacidades para perceber o mundo de modo mais abrangente ampliando sua consciência, vemos com frequência, pessoas que orientam suas vidas de forma excessivamente racional onde as emoções e sentimentos ficam muitas vezes reprimidos manifestando-se em somatizações. Por outro lado, existem também aquelas pessoas que agem compulsiva e mecanicamente respondendo sem pensar às demandas externas, ou a impulsos emocionais. Outras ainda, ficam totalmente presas a um mundo subjetivo de emoções – paralisadas pelo medo, insegurança e etc. – encontrando-se incapazes de agir e tampouco de pensar claramente.

Para lidar com condições tão diversas, a terapia artística utiliza-se de diferentes meios artísticos que por suas qualidades intrínsecas, atuam de modos distintos promovendo uma harmonização dos processos em desequilíbrio.  Pintura, desenho e modelagem são os meios mais utilizados.

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Argila, barro, massa, fria, úmida, sem forma definida. O processo se inicia no contato com o material, no tocar das mãos. Amassar, misturar, misturar-se de forma mais inconsciente. As duas mãos são convidadas a participar por inteiro, ativas e enérgicas. Pouco a pouco as mãos vão pressionando, deslizando, fazendo escolhas onde o próprio tato é uma ajuda. Esse processo é “um certo acordar” a consciência, estar presente nas mãos, nos membros. A massa reage, impõe limites. Há uma interação e nessa conversa algo revelador se expressa. O processo que culmina numa forma revela muito mais que ela mesma.

Pela modelagem atinge-se a instância volitiva do homem. Mobiliza e harmoniza o agir, beneficiando aquelas pessoas com dificuldade de estarem presentes no metabolismo. Ajuda a dar contorno, limites, modelando a forma de se colocarem no mundo quando há impulsividade desordenada, e ativa à vontade, o agir, quando há estagnação. Pela modelagem é trazida uma presença ordenadora para dentro do corpo.

Embora a intenção aqui seja falar especificamente da modelagem, cabe dizer de uma maneira geral em relação à pintura – do modo como a usamos na terapia artística – que ela está mais indicada nos casos onde a respiração, a troca com o mundo externo, precise fluir, quando há dificuldade de contatar ou manifestar os sentimentos. Problemas que afetem mais diretamente o pensar – dificuldade de concentração, atenção, compreensão lógica de conexões e outros aspectos nessa esfera – encontram no desenho um grande auxílio. Importante colocar que falamos aqui de uma maneira muito ampla, uma vez que existem exercícios específicos capazes de ativar qualquer uma das três instâncias referidas, dentro de cada um dos meios plástico-artísticos. Mas essa é uma compreensão mais específica que cabe ao terapeuta avaliar em cada caso particular. Sobre a modelagem, que ativa principalmente a área metabólico-motora, falaremos a seguir.

Modelar é penetrar no mundo das forças plasmadoras dentro de nós, é entrar no próprio corpo, é moldar-se a si mesmo.

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Formas côncavas, convexas, planas, imagens da natureza ou forma livres, metamorfoses. Cada qual tem um sentido e conduz numa determinada direção. Na terapia artística os exercícios são dirigidos. A livre expressão pode ser utilizada no início do tratamento, ou em momentos específicos, como auxílio no diagnóstico, o caminho terapêutico, porém, é conduzido através de propostas artísticas indicadas pelo terapeuta, que se baseia na compreensão do processo em curso em busca do equilíbrio.

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De modo geral, o processo de modelagem em argila pode ser expandido para modelagem em cera de abelha, gesso, papel marche e ainda para a atividade de esculpir em madeira ou pedra. Evidentemente modelar (moldar com as mãos) é como processo, distinto do esculpir (tirar com instrumentos). Na modelagem há muita plasticidade e possibilidades de transformação até o encontro da forma final, e na escultura em madeira ou pedra a dureza do material impõe os próprios limites. Do ponto de vista de lidar com a construção de um corpo tridimensional é bastante próximo.  O terapeuta, uma vez conhecendo as particularidades de cada material, indica a opção que melhor possa ajudar o paciente a reativar as forças curativas dentro de si.

ALICE NOBRE MARTINS
Terapeuta artística em São Paulo

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